Academia, intestino, meu corpo e o causo dos sabonetes

A hipervalorização do corpo no mundo das academias é algo que incomoda, e muito. Isto, para não comentar a hipersexualização. Peitos, coxas e bundas suntuosos, associados a muita maquiagem, em alguns casos. Há quem viva disso, e chega a ser ostensivo, para quem só quer perder um pouco de peso, como eu.
Não, não gosto desse universo, mas recorro a ele, de tempos em tempos. Academias de ginástica poderiam ser uma outra coisa. Meu problema não é fazer atividade física, disto gosto. Meu problema é procurar o aparelho e não achá-lo, ou quando o acho está ocupado, e a música barulhenta, e aqueles instrutores que vêm dar a mão, perguntando se está tudo bem, sendo que nunca estou à vontade ali. Além dos já mencionados exacerbos femininos; tudo isto gera um incômodo enorme e faz com que a experiência não seja quase nada aprazível.
Acrescendo-se a isto, esta semana, meu intestino preso, meu intestino solto; que sofreguidão. Tenho estado lenta, não sei se é TPM ou o incômodo intestinal. Em ritmo lento, cumpro o básico. Gostaria de ter lido mais do Itamar Jr, e da Clarisse, mas não consegui. Às vezes somos sucumbidos pelo corpo. Mas, vamos seguindo, dia a dia.
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Caminho sensível
Terra do mar
Cheiro da terra
Café e pomar
Cafezinho cheirando fizinho, em bom mineirês. Bebemos junto ao resto de pizza Toscana de ontem, que comemos com prazer. O solzinho da manhã batendo no rosto, enquanto brinco com as cachorrinhas e dou-lhes mexerica. Tranquila manhã de segunda. Geralmente é ele quem prepara nossas refeições; sinto-me princesa por isso (prefiro colaborar com a cozinha, que costumo deixar em ordem para os preparos).
A mesma sensação de princesa sentia, na adolescência, depois de lavar o box do banheiro e poder tomar meu banho com tudo limpinho. Era um banheiro pequeno, inclusive a janela, de maneira que o vapor que saía com dificuldade acabava por criar limo nos frisos dos azulejos. Cada semana era uma das irmãs quem limpava. Usávamos Bombril de Veja multiuso, para tirar as gretas pretas. Lavávamos da altura da cabeça para baixo, inclusive a saboneteira, que costumava acumular crostas de sabonete em barra derretido.
Minha mãe sempre disse que a saboneteira do box, o porta sabão da pia da cozinha, e o do tanque, deviam estar sempre secos, para que as barras não amolecessem. E aprendi isso. Mas, há quem não o faça. Meu namorado é um deles (não deixo de amá-lo por isso, mas acho curioso). Ele é muito econômico em tudo. Parte elétrica, equipamentos, e mesmo despensa. Mas, sabão e sabonete são seus fracos no quesito desperdício. A esponjinha da pia vai molhada sobre a barra (embora haja um compartimento para ela), de modo que esta se derrete inteira. Sabonetes caem no chão do banheiro e amolecem, e ele simplesmente pega um novo, antes de terminar os amolecidos! Acho estranho; cada um com sua mania. Eu, por exemplo, subutilizo meus equipamentos – não os emprego em seus potenciais integrais, pois esqueço suas funções ou mesmo não sei utilizá-las. De tempos em tempos faço umas recapitulações, e revejo seus usos; até esquecer-me novamente. (Ele também deve achar isto muito diferente de seu modus operandi).
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Mas, o que isso tem a ver com o corpo? E com a eventual sensação de ser princesa? E com economia? E com tecnologia? Tem a ver, vejam se me entendem. Temos um corpo e lidamos com ele dia a dia. Sucumbimos à rotina e deixamos de cuidar do corpo, de modo que ir à academia sempre é (no meu caso), quando a coisa começa a ficar periclitante. Nosso corpo é nosso equipamento, é nossa interface com o mundo, e deveríamos cuidar dele como fazemos todas as outras coisas na nossa rotina. Quando suplantamos as idiossincrasias da academia e fazemos nossos exercícios com prazer, e quando curtimos terminá-los e tomamos um banho gostoso, acabamos por economizar em roupas que nos escondem, em doces que nos deem prazer, pois o prazer já vem da atividade física e de estarmos nos cuidando.
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Quanto à ostensiva superestimação corpórea e hipersexualização feminina dentro desses ambientes, sinceramente, melhor não se apegar a isso, e passar um sabonetinho na cena – até que se melhore a forma física e este tipo de ação não afete tanto. (E, depois de muito fitoterápico, o intestino e a disposição voltam a melhorar).
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Arominha vem pelo ar
Música bela ressoa ao fundo
No meio da tempestade
Tranquilidade