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Um conto em uma Página

Chuva fresca da manhã. Passarinhos cantando. Uma gotinha insistente cai na telha ao lado e rouba minha atenção. Um galo cantando aos fundos e um passarinho amarelo salpicando no ar.
Os cachorrinhos do vizinho brincam, um passarinho preto passa; dois passarinhos passam.
Consegui ir ao banheiro; há um ar de dezembro, quente, tranquilo e chuvoso.
Mas, é setembro, e tudo ainda está por vir.
Setembro Amarelo. Anabelle. Artista tentando viver. Ela tomou. Tomou tudo; engoliu tudo de uma vez só.
Confusa, queria saber, saber seu lugar e disse: -Eu tenho valor.
Eu gostaria de saber e perguntei à psiquiatra, e gostaria que ela soubesse e lhe disse: -Pergunte à Dra Ana como é seu mecanismo psíquico, para você se entender melhor, e não se debater tanto.
Porque às vezes, parecia que ela brigava consigo mesma. Estava brigando conosco; mas a briga era com ela.
-Sou artista! Eles me diminuem. -Vamos abrir uma padaria? Belle, não temos tradição; sequer conhecemos um padeiro. Padeiro é o de menos, ela me disse. Fiquei atônita, com tão absurda colocação. -Vamos abrir uma marcenaria? Anna, não temos capital para abrir um negócio, no momento; nem know-how nessa área. -Eu não quero ficar lá!!! E isso foi, e foi, até que foi.
O cachorrinho preto do vizinho, o mais novo, caiu na piscina. Ouvi batidas n’água e fui ver; era ele, se debatendo, tentando sair, tentando viver. Chamamos o vizinho e o filho mais velho mergulhou e o pegou. O pobrezinho havia engolido muita água, mas sobreviveu. Salvamos uma vida. Pensei feliz e aliviada.
As cabeças dos alhinhos começaram a germinar e cresceram, criando raízes, como as conexões de seus neurônios, mas estes cintilam sempre pelas mesmas rotas; arroto humildemente.
A grama, outrora seca, esverdeou milagrosamente, depois de uma tarde e uma noite de chuva. A plasticidade da natureza espanta, de tão sábia.
A manhã abre com uma bela aurora. Mais um dia.
O mágico ilusionista de ontem cantou a bola: Nos vemos de lá.