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Fluxo, terra, verde dança amornante

Passarinhos amarelos passeiam pelo terreno cinza, pardaizinhos marrons brincam nos raminhos verdes e bem-te-vis cantam seu canto sonoro. Os balõezinhos verdes agora murchos continuam enfeitando os fios elétricos, enquanto um caminhão azul passa e as rosadas flores enfeitam a árvore do jardim da sua vizinha da frente; D. Zélia. Cachorrinhos latem ao fundo enquanto seu intestino vibra, querendo agir.
Ontem ficou na dúvida: quando o pequeno óvulo fecundado se prende na parede do útero, é em que dia da gestação? Efetivamente já estaria grávida, pensou ela? O garoto de blusa roxa dava coices abruptos na parede. Nesse ponto, posso fazer massagens modeladoras, pensa Isadora? Teve medo de ter tido um aborto precoce naquele mês. Era muito sangue. Empossou no edredon; passa um caminhão vermelho, teria sido um sinal?
Outro garoto atira pauzinhos e pedrinhas ao vento. Fazia movimentos expressivos de alogamento no ar; pura expressão cinestésica. Foi voltou pegou uma sacola, sua camisa branca e vermelha combinava com a toalha xadrez. Lembrou do seu sangue novamente. O pote de doce de leite com morango também lhe recordou a cena. Porções vermelhas- vibrante adornavam o vidro. Um aperto no estômago. Teria cometido um erro deste tamanho?
Olhou e havia tufos, verdadeiras mechas de vigorosos pêlos brancos. De onde saíram? Há quarenta dias não estavam lá, onde a vitalidade costuma pulsar, elaborava ela. Se bem que, são bem vivos, e se sentia mais viva do que nunca. Tanta coisa a fazer, ainda. Tanta Vida por vir! E, tanta coisa se fora. Coisas inimagináveis, de tão duras. Garotas de família estruturada não conseguiriam nem pensar.
-Sou adulta e ainda tenho muito a viver! -Carrego uma considerável bagagem comigo! Que Shiva dance, dance muito e mova as pedras dos tortuosos trajetos da família Amorim. -Ainda desejamos nossos verdes terrenos.
Observando daqui, a chuva caía forte sobre a grama, o telhado, e a piscina azul.
Cinco formiguinhas estáticas, prostradas no açúcar cristal, faziam seu trabalho incansável.
As manhãs no Parque Jardim da Serra tinham a tranquilidade do vento morno de uma tarde quente.