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Barriga-terra Oco-vulcão

Ela pensava em fazer cerâmicas oco-vaginas, como o meio-pão oco, sem miolo e quentinho, que comeu no dia anterior. Estas formas, remetiam-se também a úteros. Ela, que pensava muito nisso. Siriema invertida, colocava as pernas para o ar, a cada vez que faziam amor. Era assim mês a mês, por dias seguidos, nos seus períodos férteis.
A barriga-terra, outra cerâmica, era como o bumbunzinho da Jacu, que parou no jardim; saliente e protuberante. Saíam muitas formiguinhas do umbigo da barriga vulcão-terra. Elas aravam o terreno. Mas, o medo de dar uma bolha na barriguinha e explodir tudo no forno tomava conta. Imagina a cena? Muitos estilhaços de argila preta se espatifando no forno quente. Cósmico, como a barriga-útero.
Era preciso furar a bolha e ver o ar sair, e o líquido sair, para curar bem o bebê e este nascer direito. Como o gozo menstrual, que molhava sua calcinha quando a pequena suricato colocava-se de pé.
As formiguinhas, que aravam o terreno da barriga-vulcão, agora percorriam suas pernas, rio abaixo, como uma trilha negra-feromônio, e formavam poças escuras nos ladrilhos bege do banheiro. Mas, se fossem abaixo, e abaixo, chegariam à terra do jardim, e podiam caminhar até a horta, onde as grandes folhas bagunçadas de taioba enfeitavam o terreno.
No muro, ao fundo, havia dois passarinhos amarelos presos pela lateral, bem na parede, que comiam a terrinha do cimento. Ficaram lá um bom tempo, suspensos; como alfinetes cor de ouro fincados na parede. De repente, voaram. Olhando abaixo, ela viu um besourinho caído, com a patas suspensas ao ar, como a siriema, mas estava morto.
Mas, se tratava de vida; muita vida. Aquela paisagem exuberante e livre a animava. Colocou a barriga-terra-útero na grama para fotografar. Ajustou a câmera a fez o clique. De repente, num átimo, acordou com sua mão espanando o pernilongo que zunia no corpo macio, roliço e delicado.